Reflexão sobre o Haiti
O mundo vive uma corrente de solidariedade para minimizar a dor e a tragédia no Haiti. Ações sem fronteiras, sem entraves ideológicos, econômicos, políticos e religiosos. Gestos humanos.Mas como entender um País, onde o próprio cônsul dessa nação, em SP, afirma que "a tragédia tem um lado positivo, pois coloca o Haiti no foco do mundo" e numa estupidez ainda maior, culpa a religião haitiana (Vodu), como se fosse o Candomblé no Brasil, "por essa maldição".
Como entender que este país ocupe um dos piores índices de pobreza no Mundo e que 70% da população viva abaixo da miséria?
É preciso resgatar a história do Haiti para procurar entender tanta miséria. Sempre foi uma nação renegada pelo Poder do Mundo. Por preconceito? Talvez sim.
A fomentação de guerras e massacres sempre foram motivações para calar a primeira nação negra do Mundo.
Uma história que começa quando 400 mil escravos se revoltam contra 30 mil fazendeiros e resolvem libertar o Haiti, assumindo o poder. Mas o Poder Político e Econômico das grandes nações jamais permitiu que o Haiti se desenvolvesse. O EUA ocupou o País por 20 anos e sempre deu aval aos ditadores, que lá se proclamavam presidentes vitalícios, como foi o caso do sanguinário Papa Doc, que deixou um rastro de mortes de mais de 30 mil haitianos.
O temor americano era o Haiti se tornar mais uma Cuba no Continente, daí cultivar as ditaduras e a instabilidade no país.
A ONU gasta meio bilhão de dólares e o Brasil já gastou um total de 703 milhões para quê? Sob o pretexto de manter a ordem e a paz no país. No entanto, o Haiti tem sido um grande laboratório de teste de guerras. Nesta mesma ótica, os EUA já mandaram para lá 10 mil soldados. E se esses valores fossem investidos em saneamento, escolas e saúde, o Haiti não estaria em melhores condições, inclusive de minimizar o impacto dessa tragédia?
Claro que sim, pois especialistas em engenharia constataram que a maioria das construções da população pobre não atende aos mínimos padrões de qualidade, sendo feitas com materiais inadequados e práticas de construções incorretas, que contribuíram para o desabamento de muitas estruturas.
O povo haitiano está nas ruas pedindo piedade para o mundo, um mínimo de dignidade para seus sobreviventes. O povo chora os seus mortos, mas quer ver seu país reconstruído com as mínimas bases de condições humanas e qualidade de vida.
O Povo precisa de solidariedade, mas quer ser livre nas suas opções religiosas, no seu direito de ir e vir, sem estar sendo vigiado e coagido por fuzis e carros tanques.
O povo haitiano pede o clamor do mundo, mas não quer ver suas crianças e recém-nascidos serem contrabandeados e "roubados oficialmente", sob o pretexto de adoção e melhores condições de vida em casas européias.
O grito é pela vida, pela sua história, pela sua cultura... A fome não marca hora, como dizia Betinho, mas o homem e o povo haitiano são muito mais que um prato de comida e um agasalho.
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Mário de Sousa é jornalista
domingo, 24 de janeiro de 2010
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