Coluna de Mário Sousa/Jornal da Cidade
Um debate sobre a Cultura em Niterói
Participei, na última quarta-feira à noite, no Teatro Municipal do evento “Niterói Rumo ao Sistema Nacional de Cultura”, promovido pela Prefeitura de Niterói, através da Secretaria Municipal de Cultura, da Fundação Arte de Niterói (FAN) e do Conselho Municipal de Cultura.
O subsecretário de Cultura, Cláudio Salles, comandou a mesa de apresentação, composta pelo vice-prefeito, Axel Grael, o vereador Leonardo Giordano, presidente da Comissão de Cultura da Câmara, Fábio Silva, representando Ministério da Cultura, Waldeck Carneiro, Secretário Municipal de Educação, Ciência e Tecnologia,José Henrique Antunes, presidente da Fundação de Educação, Victor de Wolf Rodrigues Martins, Superintendente da FAN, Sady Biachini, presidente do Conselho Municipal de Cultura, e Fabiano Gonçalves, Secretário Municipal de Desenvolvimento. Em seguida, houve a segunda mesa com especialistas sobre o Sistema nas áreas estadual e federal.
Embora num nível apenas teórico, foi um importante encontro onde os novos gestores apresentaram as diretrizes para as políticas públicas da cidade. Todos destacaram um novo ciclo de oportunidades e de uma política cultural democrática e transformadora. Positivo também o número de pessoas presentes no Teatro, mas faço uma sugestão para os organizadores: no próximo encontro convidem as instituições e os movimentos sociais que lidam com a cultura da cidade, como: Associação Niteroiense de Escritores, Associação dos Trabalhadores de Artes Cênicas de Niterói, Fórum Cultural, Academia Niteroiense de Letras, Academia Fluminense de letras, Cenáculo Fluminense, Instituto Histórico, Sociedade Fluminense de Fotografia, Associação dos Artesões de Niterói, etc..
Cláudio Salles, coordenador da mesa de abertura, fez um resumo da proposta do Encontro. O prefeito em exercício, Axel Grael, destacou que Niterói viverá um novo ciclo e falou das preocupações do Governo com os grandes eventos que ocorrerão no Rio e o impacto na cidade. O vereador Leonardo Giordano fez um resumo das suas ações na Câmara tendo como foco a Cultura, a exemplo do projeto sobre Vale Cultura que tramita no Legislativo. Victor de Wolf destacou as diretrizes que vão nortear a cultura em Niterói com o fortalecimento do Conselho Municipal de Cultura, com ações transparentes e democrático.Fabiano Gonçalves abordou a cultura como um mercado produtivo e gerador da economia.
Waldeck Carneiro e José Henrique Antunes destacaram a interface entre a Educação e a Cultura e os projetos em parceria com os dois órgãos. Foi bom saber que a Secretaria de Educação pretende recuperar a casa Norival de Freitas e revitalizar o Salão de Leitura.
Fábio Silva fez uma fala esclarecedora sobre a Política Nacional de Cultura. Sady Biachini afirmou que as políticas públicas têm que se materializar na prática contemplando todas as áreas da criação e a diversidade das manifestações.
Debates temáticos
Já no sábado, houve a continuidade do encontro Niterói Rumo ao Sisterma Nacional de Cultura, com debates temáticos contemplando o artesanato, artes visuais, cinema e vídeo, cultura digital, culturas populares e indígenas, patrimônio histórico material e imaterial, artístico e cultural, teatro e circo, dança, indústria criativa, produtores culturais e mercado cultural, instituições de ensino e pesquisa, bibliotecas, literatura, livro e leitura, movimentos sociais e instituições civis, música,etc
O Encontro foi no Colégio Liceu Nilo Peçanha, das 9h às 19h, e, surpreendentemente, na véspera de um feriadão, cerca de 100 pessoas debateram a cultura da cidade. Um fato que sinaliza positivamente para a organização do evento e para os novos caminhos da cultura na cidade.
Foi relevante e positivo saber por parte do Superintende da FAN, Victor de Wolf Rodrigues Martins, sobre as primeiras edições de editais e o resgate da Casa Norival de Freitas.
O Encontro é uma prévia para formulação de propostas para a Conferência Municipal de Cultura.
No grupo temático em que participei, se reuniu o pessoal de Teatro, Dança e Teatro de Bonecos. Por decisão coletiva, cada grupo específico respondeu o questionário sobre um diagnóstico das questões culturais no município e apresentou propostas.
No caso do Teatro, ao elogiar a organização do evento, conduzindo pelo subsecretário Claudio Salles, afirmei que o artista da cidade vem sofrendo bulling cultural por falta de políticas públicas na área da Cultura.
Destaquei que os novos gestores da cultura estão dando sinalização de que haverá mudanças significativas para essas definições de políticas públicas, mas ponderei de que nenhuma definição, nenhuma proposta, vingará de fato, se não houver uma radical mudança no olhar e na ação do fazer cultural da cidade.
Em seguida, apresentei algumas propostas que foram aprovadas pelo Fórum de Artes Cênicas há 5 anos e pelo Fórum Cultural para a área de Teatro:
1. Criação na estrutura da Secretaria de Cultura de uma Coordebação de Teatro
2. Criação de editais diferenciados para as companhias de Teatro da cidade para agenda no Teatro Municipal
3. Criação de editais diferenciados para produções de projetos e produções de teatro adulto e infantil para companhias com provadamente de Niterói
4. Redução das taxas para ocupação dos espaços públicos para companhias da cidade
5. Apoio logístico aos grupos e companhias da cidade que vierem a participar de eventos estaduais, nacionais e internacionais
6. Instituição de cursos, seminários, para qualificação na área teatral
Propostas Gerais
1. Fortalecimento do Conselho Municipal de Cultura e uma sugestão para que o Conselho convoque todas as instituições da cidade, Associação dos Trabalhadores de Artes Cênicas, Associação Niteroiense de Escritores, Fórum de Artes Cênicas, Forum Cultural, Sociedade Fluminense Fotografia, Academias de Letras, Cenáculo Fluminense Letras, Instituto Histórico, Associação Fluminense Belas Artes, Movimentos Sociais, Coordenações de Cultura das das faculdades, etc, para um grande encontro.
2. Definiçao de um espaço para as entidades sem sede na cidade
3. Mapeamento dos artistas e grupos de cultura
4. Diversificação das atividades culturais para periferia
5. Criação de Leis de incentivo à cultura
O presidente do Conselho Municipal de Cultura, Sady Biachini, que não pode comparecer , deixou as seguintes propostas:
1. Criação de oficinas de capacitação
2. Festival de Teatro
3. Elaboração de editais
4. Comissão de avaliação com formação específica
5. Fundo de Cultura
6. Plano Municipal de Cultura
7. Mapeamento dos artistas
8. Circuito de Arte na Região Metropolitana
9. Fat- Fundo de Amparo ao Teatro
10. Criação do Setor Niterói Teatro
11. Desconto para a classe com apresentação da carteira do Santed.
Apresento este artigo para o começo de um debate e reflexão sobre a cultura em Niterói.Deixo claro que o artigo não é dirigido e não é nenhuma crítica aos novos gestores da Cultura. Afinal, os novos comandantes da Secretaria de Cultura e da FAN estão começando, ainda estão tomando pé da realidade e abrindo esses fóruns de esclarecimento e discussão para definições de um Plano de Cultura no município.
Artistas de Niterói sofrem bulling cultural
É repetitivo dizer que Niterói é uma cidade celeiro de artistas em todas as linguagens da criação. O município tem sido referência de movimentos artísticos e daqui tem saído dezenas de talentos. E não são poucos os fazedores de arte, premiados, destacados, nacional e internacionalmente.
Não é por acaso, que historicamente o Teatro brasileiro começou no Morro de São Lourenço com a primeira encenação do auto “São Lourenço dos Índios” de José de Anchieta. Sem ficar contemplando o passado, Niterói viveu momentos históricos na arte em função de esforços de movimentos sociais independentes, de lutas individuais e muito pouco fruto de políticas públicas na área da cultura.
Parece ser pecado alguém afirmar que é artista da cidade, tanto no começo de uma empreitada ou mesmo tendo acúmulo de experiências, títulos, prêmios e reconhecimento do público e da crítica.
Exponho algumas contradições para um debate saudável. Há muitos anos nós temos várias instituições representativas de cultura no município, como a Associação Niteroiense dos Escritores, a Associação dos Trabalhadores de Artes Cênicas de Niterói, Academia Fluminense de Letras, a Academia Niteroiense de Letras, o Cenáculo Fluminense, o Instituto Histórico, a Associação Fluminense de Fotografia, Associação Fluminense de Belas Artes, Fórum de Artes Cênicas, Fórum Cultural, e, no entanto, a maioria dessas instituições não tem um simples espaço onde possa fazer uma reunião. Além dessas instituições, temos várias companhias de teatro, academias de dança, grupos de dança de rua, ateliês de pintura, escolas de arte, que são invisíveis para o Poder público cultural.
Como justificar, por exemplo, que a cidade tenha quase em cada esquina uma academia de dança e não haver um movimento nem mesmo semi profissional de dança, seja através de uma Mostra, Festival, ou agenda no Municipal? Criou-se uma Companhia Oficial de Balé na cidade que pouco ou nada representa para os valores do município.
E no caso do Teatro, a primeira fala que se ouve é : "pessoal do teatrinho da cidade". Não há uma percepção dessa realidade teatral, com suas companhias, seus grupos,seus produtores, autores e atores. Agenda no teatro Municipal? Como ? Que ousadia? "Vamos avaliar a qualidade", "Serve um dia da semana?"
Não há nem mesmo na estrutura da Secretaria de Cultura um Setor nesta área, como há de dança, livro, literatura, patrimônio, música, etc...
A agenda do Teatro Municipal sempre esteve aberta para qualquer espetáculo vindo do Rio e de outras regiões, até mesmo com bom suporte financeiro, mesmo que a qualidade seja discutível, mas a referência é o apelo de um ator de TV eteceta e tal. Nada contra artistas, shows, companhias vindo do Rio, SP e de outros países, mas é preciso ter o equilíbrio e a percepção de nossa demanda. Temos uma boa safra de atores e atrizes niteroienses fazendo sucesso na TV, no Cinema e nas grandes produções empresariais, mas nem esse viés é aproveitado.
Além desse achismo cultural e falta de democratização dos espaços culturais públicos, surge outro equivocado processo seletivo através do controle ideológico, partidário e até de linguagem artística. E não estou me referindo apenas aos espaços públicos municipais, mas também aos estaduais e federais. Há algum tempo, só para exemplificar, na galeria da UFF, uma destacada artista plástica de Niterói (que não é acadêmicae se fosse?), foi recusada por, segundo o responsável, não ser uma artista contemporânea. Na época, questionei o Setor da UFF sobre o que entendiam por arte contemporânea, pois na concepção deles, um mestre como Quirino Campofiorito, não teria agenda para expor por não se enquadrar no que entendiam ser arte contemporânea.
Evidente, que a cidade tem carência de espaços culturais públicos. Só temos três teatros públicos na cidade: O Teatro João Caetano (O Municipal), o da UFF, que está fechado em obras e o Teatro Popular, que também está em obras. Mas nada justifica a falta de olhar e materialidade de ações para com os artistas da cidade, onde muitos continuam transitando por várias universos e regiões, mas ficando raízes na cidade.
Niterói, nos últimos anos, teve importantes eventos internacionais e até poderão retornar, mas os novos gestores da cultura precisam quebrar este estigma contra os valores artísticos da cidade, provocando um encontro com a nossa cultura e rompendo de vez com o bulling cultural sofrido pelos artistas da cidade.
Arthur Maia e André Diniz, artistas intelectuais da cidade, têm o desafio de acabar com este círculo vicioso e a tentativa de desqualificar os artistas da cidade.
Mário Sousa é jornalista, diretor de Teatro e um dos Coordenadores do Fórum Cultura
Um debate sobre a Cultura em Niterói
Participei, na última quarta-feira à noite, no Teatro Municipal do evento “Niterói Rumo ao Sistema Nacional de Cultura”, promovido pela Prefeitura de Niterói, através da Secretaria Municipal de Cultura, da Fundação Arte de Niterói (FAN) e do Conselho Municipal de Cultura.
O subsecretário de Cultura, Cláudio Salles, comandou a mesa de apresentação, composta pelo vice-prefeito, Axel Grael, o vereador Leonardo Giordano, presidente da Comissão de Cultura da Câmara, Fábio Silva, representando Ministério da Cultura, Waldeck Carneiro, Secretário Municipal de Educação, Ciência e Tecnologia,José Henrique Antunes, presidente da Fundação de Educação, Victor de Wolf Rodrigues Martins, Superintendente da FAN, Sady Biachini, presidente do Conselho Municipal de Cultura, e Fabiano Gonçalves, Secretário Municipal de Desenvolvimento. Em seguida, houve a segunda mesa com especialistas sobre o Sistema nas áreas estadual e federal.
Embora num nível apenas teórico, foi um importante encontro onde os novos gestores apresentaram as diretrizes para as políticas públicas da cidade. Todos destacaram um novo ciclo de oportunidades e de uma política cultural democrática e transformadora. Positivo também o número de pessoas presentes no Teatro, mas faço uma sugestão para os organizadores: no próximo encontro convidem as instituições e os movimentos sociais que lidam com a cultura da cidade, como: Associação Niteroiense de Escritores, Associação dos Trabalhadores de Artes Cênicas de Niterói, Fórum Cultural, Academia Niteroiense de Letras, Academia Fluminense de letras, Cenáculo Fluminense, Instituto Histórico, Sociedade Fluminense de Fotografia, Associação dos Artesões de Niterói, etc..
Cláudio Salles, coordenador da mesa de abertura, fez um resumo da proposta do Encontro. O prefeito em exercício, Axel Grael, destacou que Niterói viverá um novo ciclo e falou das preocupações do Governo com os grandes eventos que ocorrerão no Rio e o impacto na cidade. O vereador Leonardo Giordano fez um resumo das suas ações na Câmara tendo como foco a Cultura, a exemplo do projeto sobre Vale Cultura que tramita no Legislativo. Victor de Wolf destacou as diretrizes que vão nortear a cultura em Niterói com o fortalecimento do Conselho Municipal de Cultura, com ações transparentes e democrático.Fabiano Gonçalves abordou a cultura como um mercado produtivo e gerador da economia.
Waldeck Carneiro e José Henrique Antunes destacaram a interface entre a Educação e a Cultura e os projetos em parceria com os dois órgãos. Foi bom saber que a Secretaria de Educação pretende recuperar a casa Norival de Freitas e revitalizar o Salão de Leitura.
Fábio Silva fez uma fala esclarecedora sobre a Política Nacional de Cultura. Sady Biachini afirmou que as políticas públicas têm que se materializar na prática contemplando todas as áreas da criação e a diversidade das manifestações.
Debates temáticos
Já no sábado, houve a continuidade do encontro Niterói Rumo ao Sisterma Nacional de Cultura, com debates temáticos contemplando o artesanato, artes visuais, cinema e vídeo, cultura digital, culturas populares e indígenas, patrimônio histórico material e imaterial, artístico e cultural, teatro e circo, dança, indústria criativa, produtores culturais e mercado cultural, instituições de ensino e pesquisa, bibliotecas, literatura, livro e leitura, movimentos sociais e instituições civis, música,etc
O Encontro foi no Colégio Liceu Nilo Peçanha, das 9h às 19h, e, surpreendentemente, na véspera de um feriadão, cerca de 100 pessoas debateram a cultura da cidade. Um fato que sinaliza positivamente para a organização do evento e para os novos caminhos da cultura na cidade.
Foi relevante e positivo saber por parte do Superintende da FAN, Victor de Wolf Rodrigues Martins, sobre as primeiras edições de editais e o resgate da Casa Norival de Freitas.
O Encontro é uma prévia para formulação de propostas para a Conferência Municipal de Cultura.
No grupo temático em que participei, se reuniu o pessoal de Teatro, Dança e Teatro de Bonecos. Por decisão coletiva, cada grupo específico respondeu o questionário sobre um diagnóstico das questões culturais no município e apresentou propostas.
No caso do Teatro, ao elogiar a organização do evento, conduzindo pelo subsecretário Claudio Salles, afirmei que o artista da cidade vem sofrendo bulling cultural por falta de políticas públicas na área da Cultura.
Destaquei que os novos gestores da cultura estão dando sinalização de que haverá mudanças significativas para essas definições de políticas públicas, mas ponderei de que nenhuma definição, nenhuma proposta, vingará de fato, se não houver uma radical mudança no olhar e na ação do fazer cultural da cidade.
Em seguida, apresentei algumas propostas que foram aprovadas pelo Fórum de Artes Cênicas há 5 anos e pelo Fórum Cultural para a área de Teatro:
1. Criação na estrutura da Secretaria de Cultura de uma Coordebação de Teatro
2. Criação de editais diferenciados para as companhias de Teatro da cidade para agenda no Teatro Municipal
3. Criação de editais diferenciados para produções de projetos e produções de teatro adulto e infantil para companhias com provadamente de Niterói
4. Redução das taxas para ocupação dos espaços públicos para companhias da cidade
5. Apoio logístico aos grupos e companhias da cidade que vierem a participar de eventos estaduais, nacionais e internacionais
6. Instituição de cursos, seminários, para qualificação na área teatral
Propostas Gerais
1. Fortalecimento do Conselho Municipal de Cultura e uma sugestão para que o Conselho convoque todas as instituições da cidade, Associação dos Trabalhadores de Artes Cênicas, Associação Niteroiense de Escritores, Fórum de Artes Cênicas, Forum Cultural, Sociedade Fluminense Fotografia, Academias de Letras, Cenáculo Fluminense Letras, Instituto Histórico, Associação Fluminense Belas Artes, Movimentos Sociais, Coordenações de Cultura das das faculdades, etc, para um grande encontro.
2. Definiçao de um espaço para as entidades sem sede na cidade
3. Mapeamento dos artistas e grupos de cultura
4. Diversificação das atividades culturais para periferia
5. Criação de Leis de incentivo à cultura
O presidente do Conselho Municipal de Cultura, Sady Biachini, que não pode comparecer , deixou as seguintes propostas:
1. Criação de oficinas de capacitação
2. Festival de Teatro
3. Elaboração de editais
4. Comissão de avaliação com formação específica
5. Fundo de Cultura
6. Plano Municipal de Cultura
7. Mapeamento dos artistas
8. Circuito de Arte na Região Metropolitana
9. Fat- Fundo de Amparo ao Teatro
10. Criação do Setor Niterói Teatro
11. Desconto para a classe com apresentação da carteira do Santed.
Apresento este artigo para o começo de um debate e reflexão sobre a cultura em Niterói.Deixo claro que o artigo não é dirigido e não é nenhuma crítica aos novos gestores da Cultura. Afinal, os novos comandantes da Secretaria de Cultura e da FAN estão começando, ainda estão tomando pé da realidade e abrindo esses fóruns de esclarecimento e discussão para definições de um Plano de Cultura no município.
Artistas de Niterói sofrem bulling cultural
É repetitivo dizer que Niterói é uma cidade celeiro de artistas em todas as linguagens da criação. O município tem sido referência de movimentos artísticos e daqui tem saído dezenas de talentos. E não são poucos os fazedores de arte, premiados, destacados, nacional e internacionalmente.
Não é por acaso, que historicamente o Teatro brasileiro começou no Morro de São Lourenço com a primeira encenação do auto “São Lourenço dos Índios” de José de Anchieta. Sem ficar contemplando o passado, Niterói viveu momentos históricos na arte em função de esforços de movimentos sociais independentes, de lutas individuais e muito pouco fruto de políticas públicas na área da cultura.
Parece ser pecado alguém afirmar que é artista da cidade, tanto no começo de uma empreitada ou mesmo tendo acúmulo de experiências, títulos, prêmios e reconhecimento do público e da crítica.
Exponho algumas contradições para um debate saudável. Há muitos anos nós temos várias instituições representativas de cultura no município, como a Associação Niteroiense dos Escritores, a Associação dos Trabalhadores de Artes Cênicas de Niterói, Academia Fluminense de Letras, a Academia Niteroiense de Letras, o Cenáculo Fluminense, o Instituto Histórico, a Associação Fluminense de Fotografia, Associação Fluminense de Belas Artes, Fórum de Artes Cênicas, Fórum Cultural, e, no entanto, a maioria dessas instituições não tem um simples espaço onde possa fazer uma reunião. Além dessas instituições, temos várias companhias de teatro, academias de dança, grupos de dança de rua, ateliês de pintura, escolas de arte, que são invisíveis para o Poder público cultural.
Como justificar, por exemplo, que a cidade tenha quase em cada esquina uma academia de dança e não haver um movimento nem mesmo semi profissional de dança, seja através de uma Mostra, Festival, ou agenda no Municipal? Criou-se uma Companhia Oficial de Balé na cidade que pouco ou nada representa para os valores do município.
E no caso do Teatro, a primeira fala que se ouve é : "pessoal do teatrinho da cidade". Não há uma percepção dessa realidade teatral, com suas companhias, seus grupos,seus produtores, autores e atores. Agenda no teatro Municipal? Como ? Que ousadia? "Vamos avaliar a qualidade", "Serve um dia da semana?"
Não há nem mesmo na estrutura da Secretaria de Cultura um Setor nesta área, como há de dança, livro, literatura, patrimônio, música, etc...
A agenda do Teatro Municipal sempre esteve aberta para qualquer espetáculo vindo do Rio e de outras regiões, até mesmo com bom suporte financeiro, mesmo que a qualidade seja discutível, mas a referência é o apelo de um ator de TV eteceta e tal. Nada contra artistas, shows, companhias vindo do Rio, SP e de outros países, mas é preciso ter o equilíbrio e a percepção de nossa demanda. Temos uma boa safra de atores e atrizes niteroienses fazendo sucesso na TV, no Cinema e nas grandes produções empresariais, mas nem esse viés é aproveitado.
Além desse achismo cultural e falta de democratização dos espaços culturais públicos, surge outro equivocado processo seletivo através do controle ideológico, partidário e até de linguagem artística. E não estou me referindo apenas aos espaços públicos municipais, mas também aos estaduais e federais. Há algum tempo, só para exemplificar, na galeria da UFF, uma destacada artista plástica de Niterói (que não é acadêmicae se fosse?), foi recusada por, segundo o responsável, não ser uma artista contemporânea. Na época, questionei o Setor da UFF sobre o que entendiam por arte contemporânea, pois na concepção deles, um mestre como Quirino Campofiorito, não teria agenda para expor por não se enquadrar no que entendiam ser arte contemporânea.
Evidente, que a cidade tem carência de espaços culturais públicos. Só temos três teatros públicos na cidade: O Teatro João Caetano (O Municipal), o da UFF, que está fechado em obras e o Teatro Popular, que também está em obras. Mas nada justifica a falta de olhar e materialidade de ações para com os artistas da cidade, onde muitos continuam transitando por várias universos e regiões, mas ficando raízes na cidade.
Niterói, nos últimos anos, teve importantes eventos internacionais e até poderão retornar, mas os novos gestores da cultura precisam quebrar este estigma contra os valores artísticos da cidade, provocando um encontro com a nossa cultura e rompendo de vez com o bulling cultural sofrido pelos artistas da cidade.
Arthur Maia e André Diniz, artistas intelectuais da cidade, têm o desafio de acabar com este círculo vicioso e a tentativa de desqualificar os artistas da cidade.
Mário Sousa é jornalista, diretor de Teatro e um dos Coordenadores do Fórum Cultura