domingo, 8 de março de 2015
O Centro Cultural e a homenagem
O Centro e sua homenagem
O Centro Cultural Paschoal Carlos Magno faz programação especial para comemorar 40 anos de fundação desta instituição, que ocorre no dia 13 de março. O Centro foi criado pelo decreto municipal nº 2108/74, pelo então prefeito Ivan Fernandes de Barros, projetado pelo arquiteto Luiz Henrique Bessil Monassa e inaugurado a 13 de março de 1975, pelo então prefeito Ivan Barros, que quis homenagear o embaixador Pascoal Carlos Magno por toda a sua contribuição à Cultura no País e , pela sua destacada atuação como presidente da Comissão do IV centenário de Niterói. Ele também recebeu o Título de Cidadão Fluminense, por iniciativa do deputado estadual Alberto Torres.
Paschoal Carlos Magno nasceu em 13 de janeiro de 1906 e faleceu em 24 de maio de 1980.
Mesmo sendo um prefeito interventor, na época da Ditadura, Ivan era um pintor sensível e quis homenagear Paschoal, ainda vivo. Com todo reconhecimento ao seu trabalho, no entanto, o prefeito sofreu, na época, duras críticas de alguns intelectuais e jornalistas da cidade pela construção do Centro Cultural.
A passagem de Paschoal por Niterói não se deu apenas como presidente da Comissão do IV Centenário de Niterói. Ele foi um dos maiores incentivadores e apoiadores dos festivais jovens de Teatro, que aconteceram neste município, com apoio do jornal A Tribuna. Pascoal fazia questão de estar presente nos festivais.
O crítico Yan Michalski avalia sua contribuição ao teatro brasileiro: "Paschoal Carlos Magno, pessoa física, foi na verdade uma instituição: sozinho, embora sempre ajudado por legiões de jovens que ele sabia contagiar com a mística das suas utopias, ele quase chegou a exercer, às vezes, funções que caberiam a um informal Ministério da Cultura”, enfatizou.
“Sozinho ele foi, afirma Michalski, por exemplo, o Teatro do Estudante; foi as Caravanas de Cultura: e foi a Aldeia de Arcozelo onde, ainda no ano passado, já gravemente debilitado, instalou e acompanhou o Seminário de Artes Cênicas. Claro que quando digo que Pascoal foi tudo isto sozinho, não quero menosprezar a contribuição de centenas de colaboradores, a quem Paschoal sabia admiravelmente contagiar com a mística de sua fé. Mas sem sua presença seminal, nenhuma destas iniciativas fundamentais para a cultura nacional teria existido”, destaca o crítico.
“Num País tão dotado de talentos nos diversos terrenos da criação dramática, são raros os verdadeiros talentos de animador cultural. Mais do que ninguém, e mais do que qualquer outra coisa, Paschoal foi precisamente isto: um notável animador cultural”, ressalta Michalski.
No seu teatro Duse, em Santa Teresa, foram revelados grandes talentos do teatro como autores, atores, diretores e cenógrafos. Entre os que começaram com apoio de Paschoal, a diva do teatro brasileiro Fernanda Montenegro, Ruth Cardoso, Isack Bardavid, Sérgio Cardoso, Othon Bastos, Glauce Rocha e nossa dama do teatro de Niterói, a teatróloga Maria Jacintha.
Nomeado, em 1962, secretário geral do Conselho Nacional de Cultura, realiza a Caravana da Cultura, reunindo 256 jovens artistas que percorrem os Estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Sergipe e Alagoas, apresentando espetáculos de teatro, dança e música, promovendo exposições de artes plásticas e distribuição de livros e discos. Antes havia realizado a Barca de Cultura, pelo Rio São Francisco de Pirapora a Juazeiro, na década de 70.
A ditadura Militar, com o golpe de 1964, cassa sua carreira diplomática. Em 1965, inaugura, no interior do Estado do Rio de Janeiro, a Aldeia de Arcozelo, um local de repouso para artistas e intelectuais e um centro de treinamento para as diferentes áreas das artes.
Perdeu bens e a própria casa em Santa Teresa para manter Arcozelo Endividado, ameaçou tocar fogo em Arcozelo.
Tive a felicidade de trabalhar com Paschoal em dois momentos: no teatro Duse, e como Assessor Cultural junto com a jornalista Lou Pacheco, na Comissão do IV Centenário de Niterói.
A programação do IV Centenário de Niterói foi diversificada e de alto nível. Entre os eventos de destaques, o Concurso Internacional de Piano , no Teatro Municipal, o Festival Jovem de Teatro, o Salão Fluminense de Belas Artes. Foi no IV Centenário de Niterói que surgiu o Grupo de Teatro Expressão Teatro e Cultura, lançado por Paschoal Carlos Magno, na qual eu era um dos coordenadores e com a equipe formada por Vitor Menzes, Adalberto Pereira e Gilberto Afonso.
Na ocasião, organizamos um Curso de teatro, trazendo para Niterói todos os professores do Conservatório Nacional de Teatro: Pernambuco de Oliveira (cenógrafo e vice-presidente do Conservatório), B. Paiva Diretor da Escola de Teatro da Fderação de Faculdades Isoladas do Estado da Guanabara, que acabara de receber o Prêmio Estácio de Sá, pelos relavantes serviços prestados ao Teatro Brasileiro), Glorinha Benttermuller (Professora de voz e dicção), Nélida Laport (Professora de Expressão Corporal), Orlando Miranda ( Professor de Expressão). Foi sucesso total cpm mais de 100 inscrições.
A estréia do grupo Expressão Teatro e Cultura foi no Teatro Municipal com o espetáculo Cristo na Poesia e depois com a peça “Grande Otelo, de Joaquim Manoel de Macedo. E com Brincando de Brincar, de Mário Sousa, no Festival Nacional de Arcozelo.
Já na condição de Coordenador de Cultura da FAC (hoje FAN), fui responsável por várias programações no Centro Cultural Paschoal Carlos Magno, na época do prefeito Moreira Franco. Ali apresentei e montei uma série de exposições ( naquela época não havia curadoria), na qual destaco: a Coletiva com os seguintes artistas: Andrea karp, Abelardo Zaluar, Aloisio Gavazonni, Hélio Juliano, Hilda Campofiorito, José Nolasco, Lair Jacintho, Deró, Miguel Coelho, Tereza Brunnet; individuais com Julius Gorke, Adalton Lopes , Lucia Reiner, Ivan Burgelli, Ayrton Seixas; Mostra de Arte do Estaleiro Mauá, entre outros
Sob a coordenação da professora e escritora Ana Caldeira, ocorreu o Projeto Recontar, que semanalmente, recebia um escritor de Niterói ou escritor convidado e um crítico para apresentar e debater a obra do autor. Um projeto de muito sucesso.
Fiz duas entrevistas exclusivas com Paschoal Carlos Magno publicadas, em O Fluminense, a última, ele já bastante debilitado. Seguem alguns trechos:
“Aos vinte anos sonhava ser um grande poeta. Não o consegui. Fiz da minha vida de ação minha forma de poesia combatente”
“O meu lema foi tirado de uma Página de Disraele: A vida é curta demais para ser pequena. Cada instante deve ser uma doação do melhor e do mais alto”.
Austraségilo de Ataíde, presidente da Academia Brasileira de Letras, chamou-o de Beneditinho da Cultura, ele , então, respondeu:
“Não sou mito e não acredito na glória. Na vida vida só há uma glória, se assim posso chamá-la : o de ter lutado por tantas coisas, embora caia num desânimo imenso. O mito é o símbolo de uma frustração de ter nascido num país sem eco, numa terra sem ressonância para os que lutam pelas grandes causas da criação e do sonho.
E concluiu: "Sinto me frustrado. Gostaria de colocar no meu túmulo: aqui jaz uma mera perda de tempo."
Em junho de 1963, a cultura ficava de luto com a morte de Paschoal. O Jornal de Icaraí publicou duas páginas sobre Paschoal e sua passagem por Niterói, com artigo especial de Jourdan Amora:
“O Centro Cultural que o então prefeito Ivan Barros construiu no Campo de São Bento, eternizou, em vida, a homenagem de Niterói, àquele homem que aos 79 anos de idade, arqueado pelo tempo, mas sempre em pé, estimulando os jovens e gerando planos espetaculares para a difusão da cultura”, disse Jourdam Amora, diretor de A Tribuna e do Jornal de Icaraí, jornais que sempre apoiaram os festivais de Teatro.
"Aquele agitar cultural do Brasil, que deixou como sua maior herança para a cultura nacional, a sua própria vida, empolgava jovens quando falava, sempre com inteligência e pitadas de críticas e apelos às autoridades, especialmente, quando presentes. Era um homem espiritualmente rico, um amigo, um eterno jovem a quem tantos devem e cuja ação e pensamento só podem ser sintetizados em volumosos livros”, destacou, na época, o jornalista Jourdam Amora.
Na Folha de São Paulo, Jefferson Del Rios escreveu :
”O teatro brasileiro –amador, universitário ou profissional – deveria, portanto, aplaudir a majestosa figura deste animador cultural que sai de cena. Este belo e caloroso ser humano que engrandeceu as artes do País, seguramente não desejaria lágrimas. Sempre foi - à sua maneira – uma pessoa forte, foi suficientemente sólido para ultrapassar o profundo sentimento de solidão, desencanto e tédio que o acompanhou pela vida afora, apesar de sempre rodeado da carinhosa atenção de milhares de jovens aos quais ajudou”.
Para Jefferson, Paschoal marcou o teatro com a sua capacidade de agitador de idéias, promotor de eventos e lançador de talentos. Criou o Festival do Teatro do Estudante, na década de 50, que se desdobrou em vários encontros. Hoje, talvez pareça algo deslocado na realidade nacional, mas à época e dentro dos limites culturais da Nação, foi fator de ebulição, um janela aberta às jovens vocações.
O Centro Cultural Paschoal Carlos Magno está com uma programação em homenagem aos 40 anos de fundação de Centro. Fica a sugestão de uma exposição sobre sua trajetória e uma leitura dramática de suas poesias ou peças. Ou então, de autores, diretores, atores,que foram revelados pelo Duse ou que foram premiados no Festival Jovem de Teatro em Niterói.
Mas homenagear o Centro e o Paschoal com Dona Baratinha?
Mário de Sousa é jornalista, autor e diretor de Teatro
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